Um dia desses, um motociclista passou desesperadamente por mim. Buzinava, costurava, corria todo tipo de risco. Então, no primeiro semáforo, uns quarteirões à frente, lá estava ele. Alcancei sem esforço (nem intenção) com minha moto.
A cena foi se repetindo por uns 5 km. Ele andava louca e
irresponsavelmente e eu, em linha reta, o alcançava com facilidade. Nós
chegávamos ao mesmo lugar, um com
agilidade, outro com pressa.
Daí me meio à cabeça: vale a pena ter tanta pressa?
Primeiro, o que é pressa? O dicionário diz que é a “falta de calma e paciência para fazer algo; precipitação”.
Um provérbio taoísta afirma que quanto mais pressa temos,
mais tempo levamos para alcançar nossos objetivos.
A questão do ditado não remete ao tempo contado no relógio,
mas à nossa percepção. Com pressa, ficamos ansiosos, aí cada segundo dura uma
eternidade, ainda que continue sendo só um segundo.
Querer que o tempo passe mais rápido que o natural também
nos leva a fazer a coisas malfeitas. É o famoso “não tá tão bom porque fiz com
pressa”.
É verdade que, mesmo agindo com calma, também estamos
susceptíveis a erros e riscos. Mas com pressa, criamos problemas e corremos riscos desnecessários. A pressa também
nos impede de perceber o agora, o momento.
Assim, o presente se reduz a um eterno meio para o fim,
nunca o fim em si mesmo. Com tanta vontade de chegar ao futuro, perdemos o
agora.
Se sabemos que a pressa faz mal, por que insistimos no erro?
Estamos acostumados com um limite e, de repente, alguma
tecnologia nos convence de que todas as barreiras caíram e ele é capaz de
qualquer coisa. Se bobear, essa ilusão convence, e todo mundo tenta ser o
super-homem.
Por isto a moto me ensina tanto sobre pressa.
Assim como os corredores entre os carros engarrafados na
hora do rush convidam a moto a entrar rasgando, a era da informação nos
convence a dizer sim para tudo. Mas vale mesmo a pena?
Sim para todas as tarefas. Sim para todas as ideias. Sim
para todos os cursos. Sim para todos os seriados. Sim para todos os grupos do
WhatsApp. Sim para todos os vídeos do Facebook. Sim para todos os tweets.
Sim para tudo aquilo que significa “se manter por dentro” ou
“não ficar de fora”.
Aí entra a pressa!
Com a infinidade de coisas para fazer o tempo todo, só com
muita rapidez para conseguir. Então, no final do dia ou de um período mais
longo, vem aquela sensação de que não
fez nada de verdade.
Na moto, a consequência da pressa pode ser outra: a dor de
encontrar pessoalmente o asfalto.
Claro que as coisas evoluem e podemos fazer mais do que
antigamente. Claro que na moto podemos ir mais rápido que a pé. Mas quando
extrapolamos um limite, a qualidade do “muito” que fazemos hoje não chega nem
perto do “pouco” que era feito antes.
Até em situações de emergência, exceções à regra, não
precisamos de pressa, mas de agilidade e concentração para concluir a tarefa em
tempo hábil. É aquela pisada no freio quando alguém para de repente; a desviada
rápida quando te fecham; manobras só possíveis se não estivermos andando
apressadamente.
A pressa é um estado
mental doentio, não uma condição que nos deixa mais rápidos e habilidosos.
A agilidade,
define o dicionário, é qualidade do ágil: que se movimenta com rapidez; que
atua ou trabalha com eficiência.
Comentários
Postar um comentário